O congresso nacional do PSDB realizado aqui em Brasília na última semana serviu mais uma vez para que uma elite 'branca e aristocrática, bem educada, combinando roupas e exalando bons perfumes', como descreveu uma amiga minha, manifestasse todo seu ódio, rancor e preconceito. Diferente de muitos, não acredito que a raiva dos tucanos seja contra Lula e o PT. Mas sim contra o que estes anos de mandato do atual presidente representam em termos da importância crescente deste 'Brasil' que eles, os tucanos, demoníacos e outros representantes dos segmentos mais retrógrados e conservadores, sempre deixaram relegados à própria sorte.
Nisto reside o grande enigma: situações como o descontrole verborrágico no congresso tucano ajudam a constatar que eles sabem que o seu jeitinho de governar o povo está morto. Há uma imensa dificuldade em reciclar não só o discurso, mas a prática. Veja-se que o castelo dos seus governos estaduais começa a ruir em todos os cantos. É Teotônio Vilela e as greves que não se acabam; é Aécio Neves e as suspeitas de estripulias eleitorais que remontam ao 'mensalão tucano' de Minas em 1998; é José Serra tentando implementar um programa de privatização de estatais paulistas; é Cunha Lima prestes a perder o mandato na Paraíba sem esquecer o embuste maior imposto aos gaúchos que é a presença de Yeda Cruzius como governadora.
Amparados e protegidos por uma mídia sempre generosa em espaços, interpretações e omissões, os tucanos e seus eternos aliados começam a perder a paciência com o que está acontecendo no Brasil. Em lugar de uma efetiva análise dos equívocos, preferem atacar o povo. O modo de ver e fazer política que norteou os passos e as ações desta elite depende do projeto de um país exclusivo, que seja estruturado em sistema de castas, de forte segregação racial e de apartheid econômico que faculte a concentração de renda nas mãos de poucos e que, ao mesmo tempo, crie mecanismos para a ampliação das benesses para estes grupos poderosos.
Costumo dizer que a oposição perdeu o foco do seu discurso, na medida em que insiste em 'demonizar' o atual governo, com uma dificuldade crescente de ler e entender que a realidade nacional é algo em constante processo de mudança - vigorando hoje a paulatina implantação de um projeto que objetiva a tornar a cidadania um 'bem' cotidiano, desmascarando o velho discurso da inviabilidade econômica da inclusão de milhões de brasileiros pela adoção de políticas sociais. Só este fato ao que parece serve para aguçar ainda mais o ódio e o preconceito, algo que pode ser facilmente constatado pela ira nos discursos.
E nem falo aqui no escorregão gramatical de FHC que isto é apenas revelação do estado de tensão que hoje consome, corrói e desestabiliza os tucanos. Percebe-se pelas palavras o quanto há de ódio em cada uma delas; observa-se pelas feições iradas o quanto há de ódio dentro de cada um dos 'próceres'.
E o que se constata é uma sucessão de mágoas de quem se pensando superior, não entende que o Brasil e os brasileiros são muito mais do que eles pensam e gostariam que fosse. E nada no mundo parece servir para acalmá-los ou consolá-los, até porque há uma sucessão de notícias que servem para lhes tirar o sono e assim se vêem compelidos a recrudescer o discurso do rancor típico daquele que se pensando superior, tem imensas dificuldades de entender o zumzum que vem das ruas, preferindo pensar que são vozes saudades e não de efetiva felicidade da maioria do povo por eles estarem longe.
E assim, entra e sai ano e é a mesma angústia daqueles que sempre se vangloriaram de ser uma elite 'branca e aristocrática, bem educada, combinando roupas e exalando bons perfumes' e que de repente são obrigados a conviver com uma realidade que os angustia: o Brasil que era só deles, hoje começa a virar o Brasil de todos os brasileiros...
Você, caro ouvinte, não precisa concordar comigo, mas ao menos reflita sobre o assunto e até amanhã...
* Alfredo Bessow, jornalista e apresenta, de 2ª a 6ª, de 7h às 8h, o programa Bom dia, Servidor! pelas rádios Brasília 1.210 AM e pela 88,9 FM.