terça-feira, 27 de novembro de 2007

Contra a CPMF, a favor da sonegação

Alfredo Bessow *

Há uma imensa falácia, um cinismo sem limites, uma hipocrisia digna de ser premiada – tudo isto protegido pela ação irersponsável de boa parte da mídia nacional ao não dizer porque alguns senadores são contra a prorrogação da CPMF. Não os move outro sentimento a não ser o de proteger sonegadores. É preciso dizer isto de forma clara e com todas as letras. Qualquer argumentocai por terra diante da realidade: a CPMF é o mais democrático dos impostos hoje no emaranhado da carga tributária nacional e pé combatido por ser o único que não pode ser sonegado, que não pode ser contestado por ações na Justiça.

Esta é a máscara que se esconde por trás da ação de alguns senadores e senadoras – que em sua atuação nada mais fazem do que defender o interesse do grande capital e, por conseqüência, dos sonegadores. Contam, é claro, com a benevolência de uma mídia que se esmerou na arte de ser venal e que nada mais faz do que atuar como ponta de lança de um lobby poderoso em favor de grupos empresariais.

Houvesse seriedade e honestidade em qualquer dos discursos, então a ação destes que são contra a CPMF deveria ser no propósito de encaminhar o País para um sistema tributário mais justo e democrático e poderiam começar a atcando o PIS e o Cofins. Basta ver quantas milhares de ações abarrotam a Justiça Federal em nosso país questionando valores destes dois ‘amiguinhos’ dos sonegadores. São dois ‘tributos’ – entre tantos outros - facilmente burlados e que podem ser alvo de litigâncias e considerações auriculares junto a magistrados.

Peguemos, para exemplificar, alguém que tenha R$ 10 mil para gastar. O custo da CPMF será de R$ 38,00 – isto mesmo. No caso de uma compra qualquer com este mesmo valor de R$ 10 mil - em supermercado, shopping, etc - só de Pis/Cofins seria algo superior a R$ 1 mil. Ou seja: é pura balela o discurso ‘anti’. Volto a dizer e a insistir: o que não têm coragem de dizer que são contra a CPMF porque é ‘tributo’ que não pode ser sonegado.

Por isso, talvez, nenhum destes neo-moralistas de ocasião tenha se preocupado em acabar com tais armadilhas pró-corrupção e tratam de sabotar a CPMF que não pode ser alvo de ações protelatórias. Apegam-se a argumentos que beiram o patético, pois os mesmos que hoje o tornam sinônimo de todas as mazelas, ontem foram beneficiários de tais recursos. Dizer que a CPMF onera a cadeia produtora é conversa que nem criança de pré-escola aceita, pois todo brasileiro já sabe que boa parte do empresaiado nacional (e seus porta-vozes e áulicos com assento no Congresso Nacional e em outras cadeiras diretivas, legislativas e judicantes em vários níveis) só sabe ‘somar’. O valor da CPMF é irrisório e, sejamos francos: é democrático, diria até que é o imposto ideal, pois tira mais de quem tem mais e não atinge aos menos favorecidos.

Tenho por hábito ler vários jornais diários e percebo que a mídia não aborda esta questão elementar que está por trás da luta contra a CPMF: trata-se de tributo que inibe o Caixa 2 de empresas, que freia um pouco a lavagem de dinheiro e que impede a remessa de recursos para fora. É por isso que chega-se ao caso patético de um senador da República como Pedro Simon (PMDB-RS) ser contra a prorrogação da CPMF e a favor do tarifaço da governadora Yeda Cruzius (PSDB-RS) – um golpe nos gaúchos que vão acabar pagando mais por alimentação, transporte, vestuário e tudo mais. Por trás de cada aparente ‘contradição’, existe uma razão muito simples – basta ver a serviço de quem os que são contra a CPMF atuam, quem financiou suas campanhas.

Diria, com o perdão dos ouvintes do Bom dia, Servidor!, que é duplamente revoltante e indignante observar a ação conjunta da mídia e destes ‘representantes’ do povo que não têm coragem de assumir as verdadeiras razões que os movem a se posicionar – volto a dizer – contra o único imposto ou tributo que não pode ser sonegado, que não pode ser alvo de ações na Justiça.

É em momentos como este que se aprofunda a minha convicção do equívoco do governo Lula e do próprio PT de não terem tido coragem de apostar, apoiar e patrocinar o surgimento de uma mídia alternativa forte, capaz de se contrapor a tantas mentiras, a tanto cinismo. Ao se submeterem aos salamaleques dos empresários tradicionais da mídia, tanto o governo Lula quanto o PT não tiveram condições de fortalecer meios alternativos para chegar até a sociedade e revelar a verdadeira face de quem se quer paladino da moralidade.

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* Alfredo Bessow, jornalista e apresenta, de 2ª a 6ª, de 7h às 8h, o programa Bom dia, Servidor! - pelas rádios Brasília 1.210 AM e pela 88,9 FM.

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